Fotografia de Francisco de Oliveira Ferreira. Fotografia: Universidade do Porto
Neste sentido, é de realçar o esforço encetado pela Câmara de Gaia para resgatar o seu nome do anonimato com a publicação da obra Francisco D´Oliveira Ferreira - O Arquitecto de Gaia (TEMUDO, 2008), na passagem dos 50 anos da sua morte, e na qual nos baseamos para a descrição da sua biografia.
Francisco de Oliveira Ferreira nasceu no Porto, na Rua de Belmonte n 100-102, no dia 25 de Setembro de 1884, sendo o terceiro filho de Henrique Gomes e de Maria da Anunciação de Oliveira Ferreira, tendo mantido ao longo da vida uma relação profissional bastante próxima com o seu irmão, o escultor José de Oliveira Ferreira.
Em 1888, entretanto, a família muda-se para Vila Nova de Gaia, mais precisamente para o Candal, freguesia de Santa Marinha. Dois anos depois, nova mudança de residência, agora para a Quinta da Beleza, situada na rua do Choupelo, na mesma freguesia de Santa Marinha.
Tendo feito o seu percurso escolar em Gaia, termina em 1898 o Ensino Técnico na Escola Industrial Passos Manuel, onde aprendeu desenho, e em 1901 conclui, com distinção, a instrução primária elementar de 2° grau, com dezasseis valores.
Nesse mesmo ano matricula-se no curso de arquitectura civil na Academia Portuense de Belas Artes, onde teve como professores alguns arquitectos de grande renome como José Sardinha, José Teixeira Lopes (irmão do escultor António Teixeira Lopes), Marques de Oliveira e José de Brito. Termina o curso em 1906 e, depois, em data incerta, terá frequentado a escola de Beaux-Arts, em Paris.
Terminado o seu período de formação abre um atelier na cidade do Porto, na Rua Alexandre Herculano, n° 203.
Ainda na primeira década do século XX concorre, juntamente com o seu irmão, ao concurso para a elaboração, em Lisboa, do Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular, obtendo o primeiro lugar. Foi, sem dúvida, um início auspicioso para a sua ainda breve carreira. O monumento, idealizado para celebrar a expulsão das tropas napoleónicas de Portugal, foi inaugurado em 1933 e situa-se na Praça de Entrecampos.
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Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular. Fotografia retirada da Wikipedia |
De 1912 (ano do seu casamento com Leonor Berta Pereira) até 1915 Oliveira Ferreira projecta diversas moradias em Gaia, entre as quais a Vila Felicidade (1912), situada no gaveto entre a Rua José Teixeira Lopes com a Rua Egas Moniz, em Miramar, Arcozelo, a casa Ayres de Gouveia Alcoforado (1913), localizada na Av. Sacadura Cabral, nº 3180, na Granja, São Félix da Marinha, entre outras entretanto demolidas como a casa de Afonso Carlos Temudo Rangel (1912), que existia na Rua da Rasa, em Mafamude, ou o "Palacete Gomes" (1915), que se situava no ângulo entre a Rua José Teixeira Lopes com a Rua Infante D. Henrique, em Miramar, Arcozelo. A arquitectura residencial, aliás, será uma das tipologias a que Francisco Oliveira Ferreira mais atenção dedicará ao longo da sua carreira.
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Vila Felicidade. Fotografia de Jorge Rêgo |
Fora de Gaia, mais precisamente na cidade do Porto, são de salientar dois trabalhos significativos desta época: (1) a Ourivesaria Cunha, situada na Rua 31 de Janeiro, onde contou com a colaboração do seu irmão para a realização da escultura da fachada intitulada "grupo de amores", projecto datado de 1914, e (2) o icónico café A Brasileira, este datado do ano de 1915 e situado na Rua de Sá da Bandeira.
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A Fachada da Ourivesaria Cunha na Rua 31 de Janeiro |
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A Escultura de autoria de José de Oliveira Ferreira |
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Café "A Brasileira". Fotografia de Fernanda Veloso |
Em 1916 Francisco de Oliveira Ferreira projecta uma das suas obras mais conhecidas: o Sanatório Marítimo do Norte, em Valadares, assim como o plano de arruamentos da praia de Valadares, realizado no seguimento da construção daquela unidade hospitalar.
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Aspecto actual do Centro de Reabilitação do Norte Dr. Ferreira Alves |
O Sanatório Marítimo do Norte foi fundado pelo médico e benemérito Joaquim Gomes Ferreira Alves, tendo como missão o tratamento de diversas doenças, nomeadamente a tuberculose (doença de que o seu filho padecia), aproveitando para isso os efeitos terapêuticos da exposição solar (helioterapia), uma ciência que começava então a dar os primeiros passos.
Segundo Nuno Ferreira, «A proliferação dos sanatórios teve por objectivo dar resposta à crescente necessidade de tratamentos, através do acolhimento de um grande número de doentes em zonas balneares e montanhosas, com níveis de poluição inferiores aos registados nas grandes cidades, e onde a recuperação dos doentes, em especial com tuberculose, era favorecida pelo repouso, ar puro e uma alimentação equilibrada. Até à invenção dos antibióticos específicos, a grande inovação na cura da tuberculose foi o aparecimento da helioterapia. Esta técnica terapêutica, desenvolvida sobretudo nos sanatórios marítimos, tirava partido dos efeitos benéficos associados ao clima e, especificamente, da qualidade do ar, que levavam a um fortalecimento do organismo e sua maior resistência à infecção.
Foi neste contexto que surgiram em Vila Nova de Gaia o Sanatório Marítimo do Norte (1917) e, posteriormente, a Clínica Heliantia (1929), vocacionados para o tratamento da tuberculose óssea, apoiado na cura pelo sol, ar do mar e dos pinhais envolventes e na disciplina médica. Estes factores fizeram com que este conjunto de edifícios se localizasse numa zona relativamente isolada, nas proximidades da praia, no meio do Pinhal de Francelos (...)» (FERREIRA: s/d)
O sanatório foi construído numa zona desabitada, entre a praia de Valadares e o pinhal de Francelos, tendo sido inaugurado a 19 de Agosto de 1917. Dentro do hospital funcionava ainda uma escola primária que era frequentada pelas crianças lá internadas e das imediações.
Corpo central do Centro de Reabilitação do Norte, antigo Sanatório Marítimo do Norte
O edifício divide-se em três corpos, dois laterais, perfeitamente simétricos e acompanhados, cada um deles, por uma varanda em toda a sua extensão, e um central, com um programa arquitectónico de maior nobreza e distinção. A entrada no edifício era originalmente feita pelo lado nascente do corpo central do edifício, ala onde também se situavam os serviços administrativos e as áreas de atendimento ao público. O lado poente, virado para o mar, era reservado para as enfermarias individuais (edifício central) e colectivas (localizada nos edifícios laterais). O programa decorativo é bastante rico, com uso recorrente do azulejo.
Merece ainda realce a elevação do edifício em relação ao terreno onde está situado através da utilização de uma estrutura de cimento armado e corticite, solução técnica que defendia o Sanatório da humidade trazida pela proximidade do mar. Apesar de tudo, e como refere Luís Cunha, o sanatório é uma « (...) obra arquitectonicamente vulgar e funcionalmente pouco progressiva se considerarmos os aperfeiçoamentos que estes edifícios vinham sofrendo em centros estrangeiros.» (CUNHA, 1961: 4)
Razão pela qual, uns anos mais tarde, Francisco Ferreira tenha enveredado por uma solução radicalmente diferente, aquando da construção da Clínica Heliantia, edifício de que falaremos um pouco mais à frente.
O edifício divide-se em três corpos, dois laterais, perfeitamente simétricos e acompanhados, cada um deles, por uma varanda em toda a sua extensão, e um central, com um programa arquitectónico de maior nobreza e distinção. A entrada no edifício era originalmente feita pelo lado nascente do corpo central do edifício, ala onde também se situavam os serviços administrativos e as áreas de atendimento ao público. O lado poente, virado para o mar, era reservado para as enfermarias individuais (edifício central) e colectivas (localizada nos edifícios laterais). O programa decorativo é bastante rico, com uso recorrente do azulejo.
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Quadras consagradas ao sol de Antero de Quental, António Duarte, Correia D´Oliveira e Guerra Junqueiro e que decoram o edifício que se desenvolve à esquerda do bloco central |
Merece ainda realce a elevação do edifício em relação ao terreno onde está situado através da utilização de uma estrutura de cimento armado e corticite, solução técnica que defendia o Sanatório da humidade trazida pela proximidade do mar. Apesar de tudo, e como refere Luís Cunha, o sanatório é uma « (...) obra arquitectonicamente vulgar e funcionalmente pouco progressiva se considerarmos os aperfeiçoamentos que estes edifícios vinham sofrendo em centros estrangeiros.» (CUNHA, 1961: 4)
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Um dos frisos de azulejos que decoram a varanda do edifício central |
Actualmente o antigo Sanatório Marítimo do Norte alberga o Centro de Reabilitação do Norte, uma entidade do SNS que é gerida pela Santa Casa da Misericórdia.
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Pormenor de azulejo localizado no frontispício do edifício central e onde são visíveis as inicias (S.M.N) correspondentes a Sanatório Marítimo do Norte |
Foi ainda em 1916 que o arquitecto Francisco de Oliveira Ferreira elaborou o projecto de um dos edifícios mais importantes de Gaia, a Câmara Municipal ou Paços do Concelho. Trata-se de um edifício que, tal como o Sanatório Marítimo do Norte, é composto por três corpos: um central, por onde se faz o acesso ao edifício e o acesso aos restantes, e dois corpos laterais simétricos que, neste caso, dão para duas ruas diferentes, resultado do edifício estar localizado no gaveto entre a Av. da República e a Rua Álvares Cabral.
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Os Paços de Concelho de Vila Nova de Gaia. Fotografia retirada do site do Notícias de Gaia |
"Arquitectonicamente, o edifício da Câmara Municipal é marcado por um certo ecletismo ao nível da sua concepção. Implantado num terreno de "gaveto", todo o edifício principal foi trabalhado para os dois eixos viários que os servem. É composto por dois módulos longitudinais rematados por um corpo central que faz a distribuição dos espaços. Tratando-se da zona nobre por excelência desta construção, aí se processa o acesso principal ao edifício." (TEMUDO, 2008: 60)
A entrada é enquadrada por uma escadaria que dá para um alpendre constituído por três portas que dão acesso ao interior dos paços do concelho. No alpendre quatro colunas suportam a varanda do piso superior cujo acesso é feito por três portas envidraçadas. A rematar o piso superior encontra-se a pedra de armas da cidade, em granito, material em que foi construído o próprio edifício. Por cima deste corpo central, atravessando o telhado, localiza-se um pequeno torreão com cúpula onde funciona um relógio.
A partir deste eixo central o edifício prolonga-se para sul e para nascente, servindo assim a rua Álvares Cabral e a Av. da República, respectivamente.
"Os corpos laterais estão dispostos simetricamente partindo do corpo central para os extremos, cada um com o respectivo varandim em ferro forjado e uma coluna sustentando um baldaquino." (TEMUDO, 2008: 60)
Debaixo dessas pequenas varandas aparecem duas lápides. A do lado direito faz referência ao foral de Gaia dado por D. Afonso III em 1255 e ao foral de Vila Nova dado por D. Dinis no ano de 1288. Enquanto isso, a do lado esquerdo remete para o foral de Vila Nova de Gaia concedido por D. Manuel I em 1518.
A parte central dos edifícios laterais, por sua vez, é composta por duas varandas, uma que se desenvolve praticamente ao nível da rua e outra que serve o primeiro piso do edifício. A grade em ferro das varandas inferiores é decorada com palavras que remetem para as virtudes e qualidades que devem nortear a acção da Câmara Municipal. Na do lado sul aparecem as palavras: trabalho, honra, nobreza e civismo. Na grade da varanda do lado nascente, por sua vez, podem ser observadas as palavras verdade, justiça, virtudes e lizura.
A entrada é enquadrada por uma escadaria que dá para um alpendre constituído por três portas que dão acesso ao interior dos paços do concelho. No alpendre quatro colunas suportam a varanda do piso superior cujo acesso é feito por três portas envidraçadas. A rematar o piso superior encontra-se a pedra de armas da cidade, em granito, material em que foi construído o próprio edifício. Por cima deste corpo central, atravessando o telhado, localiza-se um pequeno torreão com cúpula onde funciona um relógio.
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Corpo central dos Paços do Concelho |
A partir deste eixo central o edifício prolonga-se para sul e para nascente, servindo assim a rua Álvares Cabral e a Av. da República, respectivamente.
"Os corpos laterais estão dispostos simetricamente partindo do corpo central para os extremos, cada um com o respectivo varandim em ferro forjado e uma coluna sustentando um baldaquino." (TEMUDO, 2008: 60)
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Fachada virada a sul |
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A fachada nascente |
Debaixo dessas pequenas varandas aparecem duas lápides. A do lado direito faz referência ao foral de Gaia dado por D. Afonso III em 1255 e ao foral de Vila Nova dado por D. Dinis no ano de 1288. Enquanto isso, a do lado esquerdo remete para o foral de Vila Nova de Gaia concedido por D. Manuel I em 1518.
A parte central dos edifícios laterais, por sua vez, é composta por duas varandas, uma que se desenvolve praticamente ao nível da rua e outra que serve o primeiro piso do edifício. A grade em ferro das varandas inferiores é decorada com palavras que remetem para as virtudes e qualidades que devem nortear a acção da Câmara Municipal. Na do lado sul aparecem as palavras: trabalho, honra, nobreza e civismo. Na grade da varanda do lado nascente, por sua vez, podem ser observadas as palavras verdade, justiça, virtudes e lizura.
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As varandas do lado sul |
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As varandas do lado nascente |
Apesar da construção do Sanatório e do edifício da Câmara Municipal, incumbências de âmbito mais institucional, Oliveira Ferreira continuou a receber nos anos posteriores diversas encomendas para a construção de residências. Destacam-se, neste período, a edificação de diversas moradias em Valadares como a casa de habitação de Luís Ferreira Alves (1917), situada no gaveto entre a Av. dos Sanatórios com a Av. Vasco da Gama, a sua própria casa de praia, situada no ângulo da Av. Afonso Domingues com a Av. Infante Sagres (1917), a casa Henrique Rodrigues (1917), entre a Rua dos Sanatórios e a Av. Nuno Tristão, e o Casal Minhoto (1918), propriedade de Manuel Ferreira Domingues e situado no ângulo da Av. Vasco da Gama e a rua do Infante Santo.
O casal minhoto. Fotografia de Jorge Rêgo |
Uma outra perspectiva do Casal Minhoto. Fotografia de Jorge Rêgo |
Na praia da Aguda, freguesia de Arcozelo, é de realçar a edificação da casa Quintães de Lima (1917), situada entre a Rua Rogério Cardoso Pinto e a Rua Heróis da Pátria.
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A casa Quintães de Lima. Fotografia de Jorge Rêgo |
Fotografia de Jorge Rêgo |
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Fotografia de Jorge Rêgo |
Desta época merecem ainda realce a ampliação de diversas secções da Fábrica Cerâmica e Fundição das Devesas (1920), assim como a construção de dois edifícios na então recente Av. dos Aliados, no Porto: o prédio dos Fenianos Portuenses (1919) e a casa de saúde do Dr. Alberto Gonçalves (1922).
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O Prédio dos Fenianos Portuenses, situado ao lado da Câmara Municipal do Porto |
Francisco de Oliveira Ferreira pertenceu a uma geração de arquitectos de inícios do século XX que, apesar de academicamente marcada pelo neoclassicismo de feição monumental da Escola de Belas Artes de Paris, se viu também confrontada com a emergência, possibilitada pela acelerada industrialização, do uso de novos materiais em arquitectura como o ferro, o vidro ou o betão.
É pois uma geração baptizada de eclética, muitas vezes hesitante no estilo a adoptar, dividida entre o que aprendeu nos bancos das faculdades e as novas soluções industriais. «A indústria vai dividir a cultura entre progressistas, os que a abraçavam com optimismo, e românticos, os que a rejeitavam pelo que representava de utilitarismo, de banalização em série, de economia sem alma. Por isso o ecletismo traduz as incertezas estilísticas desta época de mutação e paradoxalmente a vontade de produzir um estilo novo.» (TOSTÕES, 1996: 507, 508). Houvesse para isso coragem e arrojo.
Francisco de Oliveira Ferreira é um exemplo desse ecletismo, dessa incerteza ou inquietação, desse tactear em busca de uma nova linguagem em que se pudesse exprimir de forma original. Nesse sentido, se amiúde o seu traço é herdeiro das Beaux-Arts parisienses, OIiveira Ferreira conseguiu também desenvolver um projecto que rompe com a gramática arquitectónica convencional.
É com a construção da clínica Heliantea (1929), situada entre a Av. Egas Moniz e a Av. dos Sanatórios, em Valadares, que Oliveira Ferreira põe de lado as concessões à tradição e inaugura um edifício absolutamente moderno, com uma pioneira estrutura em betão armado que sai fora de qualquer categoria previamente existente. É aqui, verdadeiramente, que anuncia o seu génio e desassombro, com uma pedrada no charco das águas indecisas em que navegava a arquitectura de então.
A clínica Heliantia
Nas palavras da professora Ana Tostões, com a clínica Heliantea «(...) Oliveira Ferreira concebe uma das mais precoces e surpreendentes obras modernas (...) onde pioneiramente utiliza as potencialidades formais da estrutura de betão armado (...) uma construção desenvolvida em vários pisos, com amplas varandas porticadas, usando a modulação da estrutura de betão como gramática compositiva. A cobertura plana, identificando-se com os planos dos terraços e a localização assimétrica das escadas de ligação ao terreno, completa o quadro de um entendimento modernamente abstracto de toda a concepção.» - (TOSTÕES, 2006: 19)
A clínica Heliantia
Nas palavras da professora Ana Tostões, com a clínica Heliantea «(...) Oliveira Ferreira concebe uma das mais precoces e surpreendentes obras modernas (...) onde pioneiramente utiliza as potencialidades formais da estrutura de betão armado (...) uma construção desenvolvida em vários pisos, com amplas varandas porticadas, usando a modulação da estrutura de betão como gramática compositiva. A cobertura plana, identificando-se com os planos dos terraços e a localização assimétrica das escadas de ligação ao terreno, completa o quadro de um entendimento modernamente abstracto de toda a concepção.» - (TOSTÕES, 2006: 19)
O projecto da clínica Heliantea é do ano de 1929 (ano em que fez também a ampliação de um edifício para a instalação do hotel Vila Elisa, na praia da Aguda) e é, mais uma vez, uma ideia do médico Joaquim Gomes Ferreira que, antes da construção, se deslocou com o arq. Oliveira Ferreira à Suiça para visitar as clínicas do Dr. Rollier, um especialista em helioterapia. Procuravam assim tirar lições acerca dos requisitos técnicos que um edifício daquele tipo teria que possuir. A influência que estes edifícios suíços tiveram na clínica de Francelos, no entanto, foi reduzida, limitando-se a alguns aspectos puramente funcionais.
Luís Cunha descreve da seguinte forma a composição deste belo edifício de 4 pisos:
«A lei geral de toda a composição volumétrica parece ser o movimento solar. Enquanto nas fachadas Nascente e Poente as varandas se sobrepõe verticalmente, na fachada sul espraiam-se em degraus para receberem sem sombra os raios verticais do sol. E o sol, de princípio ordenador dos volumes construídos, passa, por um extraordinário processo de unidade de concepção, a ser o motivo de todas as decorações, representado na tão bela e portuguesa flor de girassol. Esta aparece desde os curiosos desenhos dos candeeiros, nos tectos exteriores do pórtico de entrada, às maciças guardas das varandas em betão moldado, que constituem verdadeiros quebra-luzes protectores da intensidade luminosa da superfície do mar." (CUNHA, 1961: 7)
Quem observa o conjunto à distância parece entrever uma armadura esquelética,de grande leveza, a proteger o núcleo do edifício, mais recatado.
A clínica Heliantea (Helianthus é precisamente a palavra grega para girassol) é consensualmente considerada a melhor obra de Oliveira Ferreira, interligando na perfeição função e estética num patamar elevado e abrindo novas possibilidades à arquitectura portuguesa num periodo em que esta se via cercada de dúvidas e hesitações. Actualmente este edifício alberga a Escola Superior de Negócios Atlântico.
Dado o seu valor estético, técnico e material, o edifício foi classificado em 2013 como Monumento de Interesse Público, tendo sido na mesma data fixada uma zona especial de protecção à sua volta.
A partir da década de 30 os projectos de Oliveira Ferreira serão maioritariamente realizados na cidade do Porto. Aqui, e para além das encomendas de tipologia residencial, que são aliás a grande maioria, merecem também destaque os trabalhos empreendidos no campo da arquitectura funerária, nomeadamente os jazigos concebidos para algumas famílias influentes da cidade e que podem ser vistos nos cemitério de Agramonte e Prado do Repouso.
Fotografia de Jorge Rêgo |
A partir da década de 30 os projectos de Oliveira Ferreira serão maioritariamente realizados na cidade do Porto. Aqui, e para além das encomendas de tipologia residencial, que são aliás a grande maioria, merecem também destaque os trabalhos empreendidos no campo da arquitectura funerária, nomeadamente os jazigos concebidos para algumas famílias influentes da cidade e que podem ser vistos nos cemitério de Agramonte e Prado do Repouso.
Para além da sua carreira profissional, Francisco Ferreira participou em diversas actividades de cariz cívico e cultural, o que diz muito do seu carácter generoso e empenhado. Fez parte, por exemplo, da Fundação dos amigos do mosteiro da Serra do Pilar, sendo o responsável pelas primeiras obras de restauro do mosteiro, participou na Comissão Organizadora das Comemorações do Centenário do Município de Gaia e da Comissão Executiva da Exposição Histórica do Vinho do Porto, entre outras.
A sua curiosidade e espírito diligente levaram-no ainda, entre os anos de 1835-1839, a percorrer o país de norte a sul recolhendo, sob a forma de desenhos, uma série de obras de arte a que deu o nome de Preciosidades Nacionais, entre as quais se podiam encontrar igrejas, pias baptismais, cruzeiros, fontes ou pelourinhos.
No ano de 1942 falece o escultor José de Oliveira Ferreira, até então residente na chamada Casa-Oficina de Escultura (Miramar, Arcozelo), um espaço que havia sido desenhado por si próprio e que, em 1945, após pedido de licenciamento à Câmara, Francisco de Oliveira Ferreira haveria de finalizar, nela habitando os últimos 15 anos da sua vida (falece em 30 de Dezembro de 1957).
Aspecto actual da Casa-Oficina de Escultura
Uma cronologia com as obras e projectos de Oliveira Ferreira, alguns deles que não chegaram a ser concretizados, pode ser encontrada no site da Universidade do Porto.
Aspecto actual da Casa-Oficina de Escultura
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Pormenor de uma janela da Casa-Oficina de Escultura
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Uma cronologia com as obras e projectos de Oliveira Ferreira, alguns deles que não chegaram a ser concretizados, pode ser encontrada no site da Universidade do Porto.
BIBLIOGRAFIA
CUNHA, Luís, 1961 - «Uma Obra do arquitecto Francisco de Oliveira Ferreira: a clínica Heliântia de Francelos: 1930». Arquitectura. Nº 72 (Outubro), p. 3-8.
TOSTÕES, Ana - «Arquitectura portuguesa do século XX: ecletismo, revivalismo e a casa portuguesa. In PEREIRA, Paulo (dir.) - História de arte portuguesa. Lisboa: Temas e Debates, 1996. vol 3 (Do Barroco à Contemporaneidade). pp. 507-547.
TOSTÕES, Ana - «Sob o signo do inquérito». In FERNANDEZ, Sérgio (Coord.) - Inquérito à arquitectura do século XX em Portugal. Lisboa: Ordem dos Arquitectos, 2006. p. 17-36.
FERREIRA, Nuno - O Sanatório Marítimo do Norte e a Clínica Heliantia de Valadares: Arquitectura, Património e Saúde. Disponível em https://www.citcem.org/encontro/pdf/new_02/TEXTO%20-%20Nuno%20Ferreira.pdf [acesso em Fevereiro de 2017]
TEMUDO, Alda Padrão (Ed. Lit.) - Francisco D´Oliveira Ferreira: o arquitecto de Gaia: homenagem do município de Vila Nova de Gaia. Vila Nova de Gaia: Casa da Cultura, 2008.
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